O movimento hippie e a contracultura nos anos 60
A palavra hippie não nasceu exclusivamente para se referir a um movimento iniciado na década de 1960 pelos jovens americanos, ela tem origem no termo hipster, usado pelos negros e populações de rua para se referir ao típico americano branco e de classe média que frequentava e tinha relações com a cultura dos guetos. A abreviação, hip, deu origem ao termo hippies, e pela semelhança com as práticas dos guetos, essa nova cultura seria mais tarde conhecida como contracultura.
A contracultura, movimento de contestação e questionamento dos valores e práticas culturais dominantes, teve seu início na imprensa norte-americana e foi usada para designar movimentos que se voltaram contra a sociedade, e que se caracterizam como transcendentais em relação ao mundo capitalista e suas práticas.
Através dos êxtases propiciados pelas drogas e filosofias orientalistas, do rock, da colocação do sexo como proposição social, da formação das comunidades hippies, a exemplo, tentava-se buscar a reintegração da totalidade humana, aspirando por uma volta à natureza e retribalização (BARROS, 2007).
As formas de expressão desse grupo se davam através da linguagem diferenciada, danças, roupas exóticas e coloridas, adereços artesanais, cabelos compridos tanto de mulheres quanto de homens e principalmente por meio do rock psicodélico, do uso excessivo de drogas para a expansão da mente, do esoterismo e do amor livre como ideal. O movimento seguia lemas como “faça amor, não faça guerra” e defendiam críticas contra o racismo, contra a destruição do meio ambiente, contra a guerra e a violência, sempre disseminando a paz e o amor e indo contra a cultura consumista e capitalista.
Os hippies apareceram pela primeira vez como notícia em uma matéria publicada no jornal San Francisco Examiner, em 5 de setembro de 1965. O jornalista responsável pela matéria, escreveu mais adiante inúmeros artigos sobre os hábitos boêmios dos jovens que se concentravam na região de Haight-Ashbury na cidade de San Francisco.
O distrito de Haight-Ashbury foi o epicentro do movimento hippie, tendo como marco uma reunião intitulada como: ‘World’s First Human Be-In’ no Golden Gate Park, em São Francisco, que ocorreu em janeiro de 1967 e reuniu milhares de jovens. São Francisco recebeu 100 mil hippies no verão de 1967, que foi logo chamado de “Summer of Love” (Verão do Amor). Mais adiante, em 18 de abril de 1967, em Nova York, uma passeata pela paz e protestos contra a guerra do Vietnã reuniu intelectuais, músicos, parte da classe média e os hippies.
O ideário hippie deve ser visto como um aprofundamento de questões que já vinham sendo lançadas e defendidas pelos escritores beats e entusiastas, como a liberação sexual, o uso de drogas alucinógenas e a ligação visceral entre música (o jazz no caso dos beats e o rock no caso dos hippies) e visão de mundo. Esse aprofundamento por parte dos hippies leva estes postulados até o limite, transformando-os em uma das tríades mais famosas da história dos anos 1960: sex, drugs, and rock and roll ( CHAGAS, 2015).
Só mais tarde os acontecimentos periféricos e contraculturais chegam ao Brasil em razão do agravamento da ditadura militar, causando grande incompreensão por parte da população através do tropicalismo. O Tropicalismo foi considerado por muitos como “uma moda exótica”, um “enlatado americano” de viés burguês, considerado um verdadeiro perigo para a sociedade devido às suas ideias desagregadoras da família e do sistema. Tanto a direita militar quanto a esquerda ortodoxa consideravam o “desbunde” como um movimento “imaturo”, subjetivo e individualista (BARROS, 2007).
O movimento hippie ultrapassou as barreiras de sistematizações, hierarquias e organizações. Caracterizá-los como dogmáticos é um erro, pois o movimento ia contra os ideais comunitaristas e libertários. O movimento deve ser visto como uma ampla movimentação em torno de hábitos, que passou a ser disseminado mundialmente, tendo forte ligação com acontecimentos que surgiriam mais adiante como o Tropicalismo, e semelhanças com os ocorridos na Europa como o Movimento de Maio de 68 na França, e a Primavera de Praga na Tchecoslováquia.
Referências:
BARROS, Patrícia Marcondes. Tropicália: Moda e contracultura em fins da década de 60. (Congresso Internacional de História). Disponível em: http://www.cih.uem.br/anais/2015/trabalhos/732.pdf. Acesso em: 02 de dezembro de 2017.
BASTOS, Gustavo. (2017). “O verão do amor e o movimento hippie”. Disponível em: http://seculodiario.com.br/36205/14/o-verao-do-amor-e-o-movimento-hippie. Acesso em: 02 de dezembro de 2017.
CHAGAS, Gisele Fonseca. “Hippies”. Enciclopédia de guerras e revoluções — vol III: 1945–2014: a época da Guerra Fria (1945–1991) e da nova ordem mundial / organização Francisco Silva. — 1. ed. — Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.